Necessidades apontados por D. João à Ouvidoria
Visita pastoral à Ouvidoria de Fenais de Vera Cruz
Ao terminar a visita pastoral à Ouvidoria de Fenais Vera Cruz quero começar por dar graças a Deus pelo trabalho pastoral dos sacerdotes, diáconos e, até este ano passado, religiosas, e de numerosos leigos que se entregam à causa do Evangelho e à edificação das comunidades cristãs, através do anúncio da Palavra de Deus, através da celebração dos Mistérios da Fé e através da partilha fraterna.
Há uma realidade que é notória e que deve merecer a nossa atenção: estamos perante uma Ouvidoria com fortes tradições cristãs mas que actualmente sofre uma profunda transformação motivada por tradições que não acompanharam a formação cristã e a renovação que se exige e pelo crescente laicismo que está a invadir as pessoas, as famílias e as comunidades cristãs.
Pedia que esta fosse uma preocupação permanente a exigir de todos os que têm responsabilidades na dinamização pastoral o estudo e a actuação adequada. Não basta continuar sempre a fazer da mesma forma como se nada se tivesse alterado.
Enuncio outros aspectos que merecem a nossa consideração.
1. Em geral, há uma manifestação de apreço pela Igreja. É notória a simpatia pela Igreja nas escolas, nas associações e nas diversas instituições de serviço público, nomeadamente as autarquias.
As comunidades cristãs nutrem simpatia pela presença do Bispo na paróquia o que agradeço.
Em quase todas as paróquias existe o conselho de pastoral paroquial e o conselho económico paroquial. São órgãos muito importantes na promoção da comunhão, da participação e da corresponsabilidade eclesial. Importa valorizá-los cada vez mais e, por isso, pedia que as paróquias que ainda não têm o Conselho Pastoral Paroquial devidamente organizado e homologado que o façam. É uma exigência da Igreja e de conformidade com uma actuação pastoral de acordo com o Concilio Vaticano II.
Embora ainda se assista a uma razoável participação dominical, porém na maioria das paróquias tem vindo a descer a participação na Eucaristia dominical. Manifesta uma falta de formação adequada e de uma boa iniciação cristã.
Acresce como consequência a falta de consciência de pertença comunitária.
Grande parte das comunidades cristãs está muito voltada para si mesma e pouco para fora. Há uma debilidade de movimentos e de grupos de evangelização no meio da sociedade.
Importa prestar uma atenção privilegiada à edificação de um núcleo comunitário forte e com cariz missionário, promovendo laços de comunhão, uma vivência sacramental sólida, proporcionar tempos de oração comunitária e formar para a missão na paróquia e no mundo.
2. Atenção privilegiada à cultura actual para melhor evangelizar.
A comunidade cristã, através dos seus organismos, deverá saber ver, julgar com critérios evangélicos para melhor actuar no meio social no qual vivemos.
Uma das respostas necessárias é a abertura das paróquias aos movimentos que têm capacidade de evangelizar o mundo.
3. Privilegiar a formação dos agentes pastorais.
Há uma formação que se deve fazer na proximidade da paróquia; há outra que deve ser realizada na Ouvidoria, para a qual deve haver motivação; e há ainda outra que exige a deslocação a nível da Ilha ou Vigararia.
4. Valorizar os diversos sectores da pastoral da comunidade cristã
- Sector do anuncio – valorização dos catequistas; integração dos pais; cuidar da homilia e promover a Palavra de Deus. Pede-se aos párocos e outros sacerdotes o acompanhamento e formação dos catequistas e a clareza na idoneidade cristã de quem se dispõe a realizar este serviço na Igreja.
- Sector Litúrgico – promover os diversos serviços para uma digna e frutuosa celebração – Leitores, Acólitos, Coro, Ministros Extraordinários da Comunhão. Cuidar da beleza da liturgia e do espaço litúrgico.
- Sector da partilha fraterna – cuidar da atenção aos mais pobres através de organismos já presentes (Cáritas, Centros Sociais Paroquiais….) e articular os vários grupos quando existam na mesma paróquia.
5. Atenção privilegiada a alguns sectores mais prementes da sociedade
- Pastoral familiar. Já ninguém duvida da necessidade de atender à família e encontrar respostas para as diversas situações da família.
- Pastoral de Jovens. As comunidades cristãs necessitam da integração dos jovens e estes necessitam de pertença e protagonismo na comunidade. Cada paróquia deve organizar devidamente a pastoral de jovens e ainda deve-se promover, a nível da Ouvidoria, algumas acções de formação e de acompanhamento dos jovens, ao longo do ano.
- Pastoral Vocacional. Tanto a família como a comunidade cristã devem orientar as suas acções para que cada criança e cada jovem possam escutar o chamamento de Jesus Cristo e prestar ajuda para que estes respondam generosamente.
- Presença cristã no meio das instituições que actuam na sociedade.
6. Promoção da Escola de Formação Cristã a nivel da Ouvidoria
Importa promover a Escola de Formação Cristã a nível da Ouvidoria e sensibilizar, coordenar e articular as diversas áreas da formação seja com o Vigário Episcopal para a Formação, seja com o Instituto Católico da Cultura, seja com os diversos serviços diocesanos.
7. Valorizar a Piedade Popular
Prestar a devida formação de modo que a Piedade Popular se torne agente de evangelização;
Acompanhar a Piedade Popular de modo que ela conduza à integração comunitária e à centralidade da Eucaristia dominical.
8. Papel insubstituível do pároco
Acompanhar, estar presente, formar, orientar, discernir…. O pároco e outros sacerdotes devem assumir o seu papel de verdadeiros educadores e formadores.
9. Pastoral de conjunto
Promover a comunhão presbiteral e uma verdadeira pastoral de conjunto de toda a Ouvidoria. O caminho de futuro não se compadece com paróquias fechadas em si mesmas.
Requer-se cada vez mais a valorização a pastoral de conjunto seja a nível de Ouvidoria, de Vigararia ou diocese.
10. Desafio actual que nos vem do Papa Francisco
«Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo actual que à auto-preservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de “saída” e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade» (EG, 27).
11.Caminhada Sinodal
A diocese está empenhada em promover um novo estilo de vida pastoral que se caracteriza pela participação activa de todos os baptizados na vida da Igreja. Convocam-se todos os organismos, todos os movimentos e todos os grupos, conselho pastoral paroquial e mesmo grupos da sociedade que ajudem a reflectir os caminhos que devem ser percorridos pela Igreja para melhor evangelizar nestes tempos de mudança cultural e social.
12 . A promoção de comunidades evangelizadoras
Comunidade cristã, nos diversos serviços e carismas, que assume a evangelização como finalidade de toda a sua acção.
+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores